Péssimo bom senso

Segundo o Wikipédia, o bom senso possibilita avaliar, com certo grau de crítica, o transcorrer dos fatos e a maneira vulgar de pensar.
Ok?
Porra nenhuma! Vamos falar na lata. Têm pessoas que nascem ricas outras nascem com alguma deficiência física e outras, mas muitas mesmo, nascem com uma deficiência mental chamada: Falta de bom senso. Como é o caso da Dona... Não sei o nome dela, mas vamos nomeá-la de “Bolota”.

(Imagem se esfumaçando, transformando em um pensamento narrado)
Estava eu, dentro do ônibus coletivo, único lugar vago era aquele banco que fica perto da porta, ele é mais alto, mais estreito e ainda tem um ferro ao lado do corredor para te segurar. Ótimo para filhos únicos, que precisam ser notados e terem toda atenção do mundo. Pronto, desce à maioria das pessoas, eu continuo no mesmo lugar. Burro!

- Troque de lugar Guilherme!

Meu anjo da guarda não me disse isso, alias o corno devia estar em táxi com ar condicionado e tudo mais, enquanto eu...

Chega ao ponto de embarque (sim, agora começa o drama, aventura e suspense), algumas pessoas sentam em seus lugares, sobram uns três lugares vazios, um deles era ao meu lado, no banco “Rei” do ônibus. Um barulho estranho vem se aproximando, quando olho, uma senhora de uns 64 anos, porque se tivesse os 65, teria seu lugar reservado e não existiria esse texto, com uns 90 kilos em cada perna, 5 sacolas do Varejão das Frutas, um menino de 7 anos, uma bolsa e um pastel. Vamos contar quantos itens a Dona Bolota tem: 1,2,3,4,,,8 itens, dividido em dois braços, sendo que um ela segurava nas barras de apoio. Se ela pintasse o rosto de branco, pareceria malabarista de circo.

Tudo bem, ela vai sentar no banco mais próximo da roleta, é claro, eu vou ganhar na mega sena, ter uma secretária ex coelhinha da playboy e ganhar o titulo da pessoa mais adorável do mundo. Tudo isso pode acontecer, menos, a dona Bolota sentar no banco mais próximo da roleta.
Ela olha nos meus olhos, mira o seu lugar, ergue a sobrancelha para concentrar e vem vindo, igual o Homem-aranha saltando pelos prédios de Nova York, começo a sentir um calafrio, sem acreditar que ela queria o lugar do meu lado. Não é possível, não cabe, não tem jeito. Ela continua vindo, da uma bocada no pastel no meio do caminho (sim, pode dar fome a qualquer momento), o menino não consegue acompanhar aos arrancos do braço da Bolota e toma xingos que saem do mesmo lugar onde é mastigado o pastel, eu sem acreditar, ela consegue chegar até o banco “Rei”, olha pra mim e com aquela expressão facial de satanás exausto de carregar enxofre o dia inteiro, se transforma em uma expressão de um coelhinho com as orelhas caídas feliz em encontrar o seu dono:

- Oi, posso sentar do seu lado?

O capetinha aparece na minha mente (o anjinho estava no táxi...filho da puta!) e diz:

- Claro que não pode, não cabe, você vai por o menino e as sacolas a onde? Dentro do pastel?

Mas o que sai da minha boca???
Nada! Somente um sorriso.
Não era possível, vou ter que ir em pé? Os outros lugares foram ocupados. Ta de sacanagem. Já sei, isso é uma pegadinha, câmera escondida, a dona Bolota é o Ivo Holanda enrolado em um colchão de casal King Size.

Mais esperto ainda, para não dar confusão, eu só chego para o lado da janela, assim ela senta logo. Espera ai!! Vidro de um lado, dona Bolota do outro, com um menino no colo, cinco sacolas, uma bolsa e um pastel e eu no meio?? Não, errei, volta, da Ctrl Z, to brincando, me deixa descer!!!
Tarde de mais, começou a manobra para entrar no banco. Vira a bunda para mim, e tenta entrar. PQP!! Lembrei do vídeo do homem entalado na bunda do elefante.



Sou eu!! Ufa não entalou em mim, nem conseguiu entrar..

Agora tenta a primeira perna e passa às sacolas, cuidado, o menino está no meio das sacolas, tira o menino, isso, só as sacolas primeiros, relaxa, isso são as minhas pernas, pode por as sacolas nelas, agora vem você (quase que uma fala de filme pornô), entrooouu!!!
Jóia! De um ombro ao outro eu devo ter uns 50 cm, sobrou 30 cm de espaço, se meu pulmão não for perfurado pelas costelas que estão quebrando... Chego tranqüilo.

- Aceita pastel?
- Se eu aceitar, a senhora desce do ônibus para comprar outro? (tudo bem, não falei isso).

O mais legal, que quando a pessoa sabe que está te incomodando e não tem o bom senso de parar de te incomodar, ela tenta criar uma amizade. Dona bolota com o menino:

- Fala pra ele seu nome Julim!
Sem desconfiometro e burra ainda. Quase perguntei para ela a cor do cavalo branco de Napoleão.

Melhorou, além de apertado agora tenho que conversar em linguagem de criança (slow motion):

- Eeeiii, queee legaaall o seeeuuu nomeee Juliiimmmm

Tudo isso, em aproximadamente 3 minutos que pareciam ter 3 horas já.
Sabe aquela coisa de temperatura e sensação térmica?
Agora existe tempo real e sensação ao lado da dona Bolota.


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